quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

PUNHAL ASIÁTICO

(UMA PÁGINA DO DIÁRIO DE UM LOUCO)

Não sei por que dantesco desvario
Eriçava-me todo em volúpia e terror
Ante aquele punhal, que era o orgulho sombrio
Daquele velho colecionador!

Cintilante punhal de feitura bizarra,
Tendo estranha inscrição na folha aguda e forte,
Recordada à feição ferina de uma garra
Em tateios de morte!

Dançava no seu cabo de ébano labrado
Com embutidos de âmbar e marfim,
Um pesadelo de almas em pecado,
Na epilepsia do fim...

E por entre essa turba atormentada,
Que se estorcia em contorções cruéis,
Longas serpentes de olhos de granada
Desenrolavam seus anéis.

Tinha aquele punhal precioso e flexível
Um nefasto poder, difícil de explicar,
Que acendia em meu sangue um desejo incoercível,
Que eu nunca tive, de matar!

Só de vê-lo sentia uma volúpia amarga,
E sem saber porque, num gesto maquinal,
A minha mão nervosa e larga
Apertava com febre o punho do punhal!

Então, brandindo o fero coruscante,
Meu braço, como o braço do assassino,
Apunhalava, a esmo, o ar circundante,
Ferindo a própria sombra em desatino.

Um dia — quando e como, é que não sei,
Por mais que me interrogue, acabado de dor, —
Despertei nesta cela. E dizem que matei
Aquele velho colecionador!...


2 comentários:

  1. Sonia querida, quanta surpresa e alegria ao constatar aqui a homenagem que fazes ao sogro Theoderick. Parabens pela iniciativa. Não sei se sabes, Carmen detem muitas outras poesias inéditas do homenageado.
    Artur Aguiar e Carmen Lenora

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    1. Obrigada! Sabe, ele foi o primeiro poeta que eu conheci em vida, depois, através dele, junto da Dona Gillete, conheci tantos outros nas homenagem que fomos juntas, por meio dele, conheci a Academia Brasileira de Letras. Uns anos atrás, eu fui em busca dos livros dele, só consegui fotografar um pequenino na Biblioteca Pública do Rio de Janeiro e conheci uma escritora que tem em seu poder um livro dele, o qual ela nem empresta, pois tem dedicatória pro pai dela, deviam ser amigos... mas, na minha memória, tem ele com suas estórias e histórias, rs... e sua aprovação sobre as minhas poesias. Imagino que ele ficaria feliz em saber que ainda me mantenho nessa árdua missão de publicar poesias, livros... E a Carmem poderia publicar novamente os livros dele. Vou escrever pra vocês. Mais uma vez, obrigada.

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